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Cuti lança livro “Contos escolhidos” no Rio de Janeiro pela editora Malê


Cuti é um dos principais expoentes da Literatura negro-brasileira. Em entrevista para o portal Malê, o poeta, prosador, ensaísta e dramaturgo conversa sobre lançamento de Contos escolhidos (Editora Malê), o conceito de literatura negro-brasileira e o cenário atual para escritores negros.


Malê: Embora seu novo livro seja uma coletânea de contos publicados ao logo da sua carreira e alguns contos inéditos, quais são suas expectativas com o seu lançamento?


Cuti: Tenho sempre a mais simples expectativa para os livros de minha autoria: que sejam lidos. Embora a literatura seja uma atividade que pressupõe um bom convívio com a solidão, ela é extremamente gregária, seu apelo ao outro, no sentido de com ele estabelecer um diálogo íntimo e profundo, é visceral. Um escritor nem sempre tem retornos das leituras feitas, mas o pouco que me chega possibilita um voo imaginário por entre as nuvens das possibilidades. Isso dá um grande alento a este ofício árduo.


Malê: O seu livro abre com um conto, o batizado, que foi adaptado para um roteiro de cinema pela atriz Léa Garcia e tem também o conto Ponto riscado no espelho, adaptado por Raphão Alafin para o formato de rap. Como o senhor vê o diálogo da sua obra literária com outras linguagens?


Cuti: Nos dois casos o que mais me alegrou foi que tanto a Léa Garcia quanto o Raphão Alafin realizaram seus trabalhos por iniciativa própria, sem que tivesse havido qualquer solicitação minha. E não se tratou, como no caso de minhas peças de teatro, de um texto próprio para adquirir outra roupagem. O conto tem como função precípua ser lido. Quando ele é oralizado já muda de registro. Vira conto oral, retorna à tradição antiga da humanidade. Mas, a linguagem do rap é contemporânea e com forte tendência à identidade negra. Ser lido é o meu objetivo primeiro. Ser lido em diversos registros é uma alegria muito grande. Principalmente se isso é feito por pessoas que você admira. No caso da poesia, já vivi isso em relação ao grafite. São experiências comoventes.

Malê: Em 2010 o senhor publicou o livro A literatura negro-brasileira, poderia comentar sobre este conceito? Atualmente o senhor percebe avanços em relação às grandes questões que impactam os autores e as obras desta literatura?


Cuti: É um conceito polêmico porque leva em conta as descobertas da antropologia, da paleontologia e sobretudo da genética, pois essas ciências vêm popularizando, suas descobertas sobre a ancestralidade africana comum a todos os seres humanos. Por outro lado, o livro discute e valoriza a experiência diaspórica que não se submete nem se sujeita à nostalgia da origem continental, além de enfatizar a identidade fenotípica como a mais contundente reação ao racismo milenar. Isso mesmo: milenar, como destaca o professor Carlos Moore em seu livro Racismo e sociedade. O livro também busca uma consideração textual do corpus e não biográfica, como é costume se fazer, exatamente por influência da antropologia do início do século XX. Vejo, sim, avanços. Há iniciativas editoriais e também o surgimento de novas escritoras e escritores, além do fenômeno riquíssimo dos saraus, como o Bem Black, o Sopapo Poético, do Elo da Corrente e tantos outros que têm impulsionado o interesse pela literatura. Somado a isso, o aumento do número de leitores, o que é fundamental. As grandes questões da atualidade têm sido trabalhadas pela expressão artística a partir do prisma das vivências negro-brasileiras, envolvendo a história, as formas culturais aqui desenvolvidas a partir da herança africana, o impacto da fragmentação da identidade e das dificuldades sociais herdadas da escravidão e mantidas pela persistência do racismo.

Malê: Como o senhor enxerga a produção realizada desde o fim dos anos 70 por escritores negros? Para o senhor tem a força de um movimento literário com características próprias?


Cuti: Vai além de um movimento literário. É um movimento estético. As várias dicções englobam as artes de uma maneira geral, a moda etc. É enfim, uma mudança de comportamento gerada a partir de um desejo profundo de expressão de uma subjetividade coletiva. As características próprias vão sendo produzidas nos fazeres diversos e, em vários campos, podem ser detectadas pelos analistas. E implicam traços predominantes e ênfases.

Malê: Como o senhor vê o surgimento de novas editoras voltadas para publicar textos de autoria negra?


Cuti: Em primeiro lugar considero iniciativas inteligentes, pois é um excelente filão de mercado ainda muito pouco explorado e de maneira errada. Se o público muda, as maneiras de se fazer chegar o produto a esse público deve ser mudada também. Há que se renovar o marketing do livro para se atingir o público majoritariamente negro. Há que se estudar melhor os anseios e expectativas desse público para se criar formas adequadas para atingi-lo, para facilitar-lhe a proximidade com as obras publicadas. É preciso muita criatividade para não se desistir facilmente. No bojo de tais iniciativas há que se ter a perspectiva de criar leitores, leitores que busquem prazer na leitura e não a obrigação dos livros didáticos, importantes também, mas que, em geral, não criam leitores.

Malê: Deixe um convite para o lançamento do seu livro no dia 24/09?


Cuti: Que venham aqueles que sonham com narrativas nas quais as personagens negras, mesmo passando dificuldade, não são passivas, reagem, pensam, elaboram suas perspectivas de vida e transformação, equacionando novos horizontes.


* O livro "Contos escolhidos" será lançada na festa literária Àjoyò, no dia 24/09 às 16 horas no Centro Cultural da Bola Preta


* Entrevista concedida por e-mail no dia 21/09/2016.

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