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Escritas de uma vivência silenciada


Cidinha da Silva, Conceição Evaristo e Cristiane Sobral estão entre as dez autoras da coletânea “Olhos de Azeviche”

“Quando falo sobre a minha ‘escrevivência’, eu me lembro da função que as mulheres negras escravizadas, mães de leite, tinham dentro da casa colonizadora: a de educar a prole colonizadora. Elas tinham a obrigação de contar histórias para ninar as crianças. Na ‘escrevivência’, penso o contrário: nossas histórias não são para adormecer a casa-grande. Elas vêm para acordá-los de sonhos injustos”, afirma a escritora Conceição Evaristo.

A belo-horizontina é uma das autoras da coletânea “Olhos de Azeviche: Dez Escritoras Negras Que Estão Renovando a Literatura Brasileira”, lançada pela editora Malê. Como um panorama que indica a diversidade dessas escritoras contemporâneas, a publicação de contos e crônicas é composta também por textos de Ana Paula Lisboa, Cidinha da Silva, Cristiane Sobral, Esmeralda Ribeiro, Fátima Trinchão, Geni Guimarães, Lia Vieira, Mirian Alves e Taís Espírito Santo.

A ausência ou a pequena representatividade ainda encontrada por escritores negros no mercado editorial em nada retrata a produção literária desses artistas. É o que vêm indicando iniciativas como a Malê, pautada pela ampliação dos esforços em garantir visibilidade à literatura afro-brasileira. Inaugurada há menos de um ano, a editora já tem em seu catálogo oito publicações assinadas por escritores negros.

“A nossa visibilidade ainda é pequena, embora estejamos escrevendo muito. Temos dificuldade de encontrar espaço nas grandes editoras. Isso denuncia o racismo. O exemplo da Malê mostra que a literatura negra existe e tem qualidade”, afirma Cristiane Sobral, escritora, poeta, atriz e diretora.

“O mercado editorial ainda não aposta nos negros brasileiros. Apostam nos africanos que, na maioria das vezes, não têm o compromisso afrocentrado. O mercado absorve as literaturas míticas e fantasiosas, que não confrontam os modelos hegemônicos”, completa.

Representação. Já em “Olhos de Azeviche”, a atenção se pauta pela subjetividade de negros e negras do país, a partir da abordagem de diversos assuntos e linguagens. “Todas as escritoras têm essa proposta, de uma escrita voltada para essa representação. Pode-se falar de vários assuntos, mas, na medida em que olhamos para as subjetividades negras, encontramos pontos em comum, como a ancestralidade africana, a maternidade, a violência aos nossos corpos negros”, aponta Cristiane.

Ela, por exemplo, traz dois textos inéditos na obra. Em “Das Águas”, a autora narra a história de uma moça negra de um quilombo, que vai para a universidade estudar medicina, vivenciando toda uma mudança de perspectiva de mundo. Já em “O Outro Lado da Moeda” ela põe no enredo personagens brancos. “Aí me interessa apresentar uma mulher não negra que vai dar sua versão sobre o racismo”, conta.

Conceição Evaristo alia ao recorte racial o tema da homoafetividade, na construção de um triângulo amoroso. “Esse é um tema difícil de se discutir entre os negros. Somos vistos, homens e mulheres, sempre como heterossexuais, como se o sujeito negro não pudesse ter outras experimentações e orientações sexuais. Sempre que trato da homoafetividade em meus textos, tenho o cuidado para não cair no estereótipo ou no grosseiro. Esse é um tema que também necessita de visibilidade para garantir a nossa existência, algo que a literatura canônica não permite”, afirma Conceição.

Coletânea

“Olhos de Azeviche: Dez escritoras negras que estão renovando a literatura brasileira” Editora Malê Páginas 142 R$ 40

Fonte: http://www.otempo.com.br

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