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Flip 2018 – Uma festa literária plural


Josélia Aguiar - Curadora da Flip 2018. Foto: divulgação

"Tentei trazer um pouco da ousadia, da transgressão e de um certo caráter não-comercial da Hilda" - Josélia Aguiar

Entre os dias 25 e 29 de julho acontece o evento literário mais importante do país. Durante os cinco dias da Flip – Festa Literária Internacional de Parati, se equilibrarão pelas ruas de calçamento em pé de moleque do Centro Histórico de Parati, nomes importantes da literatura internacional e nacional, que participarão de encontros literários, rodas de leitura, saraus, performances, entrevistas e festas. A expectativa se dá porque muito do que é apresentado, debatido e conversado durante os cinco dias de evento repercute na programação dos inúmeros eventos literários que acontecem pelas cidades brasileiras, nas estantes, sites e vitrines das livrarias e nos cadernos culturais. Entre as novidades deste ano está a ampliação da quantidade de casas que apresentam uma programação gratuita, diversificada e interessante.


Em 2017, a programação do evento sinalizou um olhar mais atento para as reivindicações de grupos sociais que vinham já há alguns anos sendo pouco representados na programação principal do evento. A guinada da Flip, neste sentido rumo à diversidade, se deu com a entrada da jornalista cultural e historiadora Josélia Aguiar como curadora do evento. Josélia, no seu primeiro ano como curadora, equilibrou apreciação estética literária e as relações atuais entre literatura e sociedade.


Este ano, com uma programação que em muitos momentos se configura até como inusitada, tanto pela escolha da escritora Hilda Hilst como homenageada, quanto pela seleção dos convidados, a diversidade se mantém.


Em 1990, ao lançar o livro Caderno Rosa de Lori Lamby, Hilda Hilst, em entrevista para a TV Cultura, afirmou que o livro era uma banana que estava dando para os editores e para o mercado editorial. Guardadas as devidas e grandes distinções entre o que afirmava a autora em 1990 e a Flip em 2018, podemos pensar que com 22 casas paralelas (muitas de editoras pequenas) e escolhas inusitadas na sua programação principal “, o evento soube trazer o espírito livre e transgressor de Hilda Hilst para o centro da cena literária e tende a garantir, além da apreciação estética literária, a reflexão sobre as escolhas do mercado editorial e as definições do que é cânone literário.


Conversei com a curadora da Flip, Josélia Aguiar, sobre a programação do evento em 2018 e as relações com a edição de 2017.


A primeira impressão que tive, ao ler a programação principal, foi de uma programação, de certa forma, até inusitada. Esta impressão tem alguma relação com a escolha da Hilda Hilst como homenageada? Como você chegou a ideia de tê-la como homenageada da Flip 2018?


Quando fui convidada para a curadoria de 2018, eu tinha em vista que a homenageada teria de ser uma mulher. Havia alguns nomes possíveis, e o fato é que era mesmo o momento da Hilda Hilst. Assim como Lima Barreto, ela foi alguém que se dedicou totalmente à literatura, sem ter uma vida pessoal muito comum, ou seja, ela levou a literatura às últimas consequências. Quase dá para pensar na Hilda falando como o Lima: “a literatura ou me mata ou me dá o que peço dela”. Acho que o inusitado tem a ver com o fato de que tentei trazer um pouco da ousadia, da transgressão e de um certo caráter não-comercial da Hilda. Os elementos que compõem a obra dela estão no programa: o amor, o desejo, a morte, a transgressão, a investigação do humano e do animal, de Deus e da transcendência. Em algumas entrevistas me perguntam quem entre os convidados é herdeiro da Hilda. O que gosto de comentar é o quanto a maioria dos autores e autoras têm pontos de contato com ela.



No ano passado, os cadernos culturais pautaram bastante a programação da FLIP e o evento como um todo como a FLIP da diversidade. Analisando a programação deste ano, me parece que houve uma intensificação no sentido desta busca por uma programação voltada para a diversidade, até mesmo pela escolha da homenageada, mas não necessariamente, contemplando os nomes que talvez fossem mais esperados. A FLIP 2018 também pode ser lida como a FLIP da diversidade?


Em 2017, por causa do Lima Barreto, era mais esperado ter mais autores e autoras negras. Este ano o que tentei foi mostrar que, independentemente do homenageado ou homenageada serem negros, os autores e autoras negros vão ser todo ano parte do programa principal da Flip, com obras que muitas vezes não tratam diretamente da questão racial. Foi algo que falei já na coletiva final do ano passado: que era preciso garantir a mesma pluralidade de autores e de público mesmo que o homenageado do ano fosse branco ou branca. Em muitos momentos desta Flip de 2018, atualizamos a de 2017. A diversidade deve ser uma característica sempre, e não a uniformidade. Portanto, essa Flip “mais intimista” porque é a Flip da Hilda Hilst, tem um conjunto de autores e autoras que garantem a mesma diversidade da Flip do ano passado.


Outro “apelido” que a edição 2017 da FLIP recebeu, foi de FLIP Preta. Em relação a participação dos autores negros na programação principal do evento (que em 2017 se refletiu também no público), você considera que em relação a FLIP esta questão está superada? Do momento em que você começou a pensar a FLIP 2017, até hoje, você percebe que ocorreram mudanças sobre a presença de escritoras e escritores negros no mercado editorial?


Devemos manter a diligência sempre, o trabalho de aumentar a representatividade está apenas começando. O que falei na coletiva e tenho repetido é que a diversidade não pode ser mais a primeira notícia. A primeira notícia deve ser a obra dos autores e autoras. Notei esse ano que as editoras, sejam pequenas ou grandes, tinham um elenco maior de autoras mulheres e negros. Mas, repito, estamos apenas começando, e não falo apenas da Flip, falo de todas as áreas.


Eu fiquei bastante empolgado em ver o nome da Lígia Fonseca Ferreira na programação e esta possibilidade de lançar luz sobre a vida e obra do Luiz Gama. Como o tema surgiu na programação? Como dialoga com a programação?


“Poeta em torre de capim” é uma mesa que vai tratar de biografia, crítica e constituição do cânone. É uma das mesas que dialoga com a Flip 2017. Ao lado da Ligia Ferreira, estará o Ricardo Domeneck, poeta e editor que recentemente contribuiu para a publicação da Hilda Machado. Pessoalmente sou apaixonada pelo Luiz Gama, sua obra e história. Desde o ano passado pensei em fazer algo com ele. Então acabou ficando para esse ano.


Uma das marcas da sua curadoria é atenção dada para o que as pequenas editoras vêm produzindo. Como você acompanha esta produção? Poderia citar exemplos de autores publicados por editoras pequenas que estarão na programação?


Sou jornalista de livros há 13 anos, então acompanho com alegria o florescimento das pequenas e independentes. Nos últimos cinco anos isso ficou particularmente visível. Entre nacionais, Bell Puã (Castanha Mecânica), Djamila Ribeiro (Letramento), Gustavo Pacheco (Tinta da China), Júlia de Carvalho Hansen (Chão da Feira), Laura Erber (Relicário), Ricardo Domeneck (7 Letras e Editora 34), Reuben da Rocha (Pitomb, Livros Fantasma, treme~terra), Tereza Maia (Editora O Lince, Editora Santuário etc), Zeca Baleiro (Reformatório). Entre autores internacionais, Alain Mabanckou (Malê), Igiaba Scego (Nós), Fabio Pusterla (Macondo), Maria Teresa Horta (Oficina Raquel).


Pelas falas na coletiva de imprensa sobre a edição deste ano da Flip, me pareceu que há um aceno mais favorável para as iniciativas que compõem a programação paralela, um desejo de fortalecer estas ações, que trazem um tempero especial, enriquecem culturalmente o evento...


Ano passado, duas mulheres foram responsáveis por iniciar esse movimento. Pilar Del Rio, que organizou a Casa Amado e Saramago, e Simone Paulino, que fez a Paratodos. Depois que anunciaram essas iniciativas, foram chegando outras, como a Casa Santa Rita de Cássia, de Cassia Carrenho. Este ano, chegamos a 22 casas parceiras, e há até um barco pirata. Creio que essas programações paralelas são das coisas mais relevantes e felizes que aconteceram na área cultural brasileira nos últimos tempos.



Este ano a Malê é uma das Editoras Parceiras da Flip. Na programação principal vai acontecer a mesa "Memórias de porco-espinho".


Você ainda poderá apreciar a literatura dos autores e das autoras que publicam pela Editora Malê, presentes em diversos espaços da maior festa literária do Brasil.


Acompanhe a programação: Programação principal: 27/07 (Sexta); 15h30 Alain Mabanckou "Memórias de porco-espinho" Tenda dos autores Programação paralela: 26/07(quinta-feira); 14h Conceição Evaristo e Meimei Bastos "Roda de conversa com Conceição Evaristo" BiblioSesc 26/07(quinta-feira); 14h30 Fábio Kabral "Para além da muralha: os segredos da criação de cenários fantásticos" Casa Fantástica 27/07(sexta-feira); 10h30 Fábio Kabral "Literatura e Afrofuturismo: a força do lado negro" Casa Fantástica 27/07(sexta-feira); 14h Meimei Bastos "Apresentação poética: Poemário" Areal do Pontal 27/07 (sexta-feira); 18h Conceição Evaristo e Tom Farias "Vozes que não podem calar: Conceição Evaristo; Carolina Maria de Jesus e Marielle Franco" Mediação: Vagner Amaro Casa Libre & Nuvem de Livros 27/07 (sexta-feira); 18h Lívia Natália "Poesia política" Casa Philos 27/07(sexta-feira); 20h30 Conceição Evaristo "Diálogos insubmissos de mulheres negras" Casa Insubmissa de mulheres negras 28/07(Sábado); 11h Cuti "Café Literário - Liberdade: a vez da voz" Casa Sesc Santa Rita 28/07(Sábado); 17h Conceição Evaristo "Insubmissas lágrimas de mulheres" *Tag Livros Casa Paratodos 28/07(Sábado); 18h Eliana Alves Cruz "Lugar de mulher é onde ela quiser" Casa Libre & Nuvem de Livros 28/07(sábado); 18h Lívia Natália "Ofó Obrin Dudu" Casa Insubmissa de Mulheres negras 28/07(Sábado); 20h Alain Mabanckou "Lançamento do livro Copo quebrado" Casa Libre & Nuvem de Livros 28/07 (Sábado); 20h Cássia Valle, Luciana Palmeira e Eliana Alves Cruz "Mulheres negras em cena" Casa da Literatura


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